Edgar Schein desenvolveu e consolidou sua teoria sobre âncora de carreira nos anos 1970 a 1990, em um
período de transformação econômica e social nos Estados Unidos, marcado pela expansão de setores de serviços e pelo surgimento de novas demandas profissionais. Esse contexto fez emergir uma maior valorização da autonomia e realização pessoal, impulsionando estudos sobre o desenvolvimento de carreira individualizado. Schein propôs que, ao longo da carreira, cada pessoa desenvolve uma âncora de carreira – um conjunto de valores, motivações e competências que se torna central na definição das decisões profissionais e trajetórias de vida. Para ele, as âncoras representam o que cada indivíduo considera como essencial para alcançar satisfação e realização no trabalho (Shein,1978).
Schein identificou inicialmente cinco âncoras, que mais tarde se expandiram para oito. São elas:
1- Competência técnica/funcional – Pessoas que se sentem realizadas ao aplicar suas habilidades e conhecimento técnico.
2- Competência gerencial – Profissionais motivados por desafios de liderança e organização de equipes.
3- Autonomia/independência – Indivíduos que buscam autonomia e controle sobre suas atividades e horários.
4- Segurança/estabilidade – Pessoas que valorizam estabilidade, seja no emprego, na organização ou financeiramente.
5- Criatividade empresarial – Profissionais que desejam criar e desenvolver novos projetos.
6- Serviço/dedicação a uma causa – Indivíduos com forte motivação para contribuir para o bem-estar social ou ambiental.
7- Puro desafio – Pessoas que buscam superação contínua e resolução de problemas complexos.
8- Estilo de vida – Profissionais que valorizam o equilíbrio entre carreira e vida pessoal, integrando trabalho às suas prioridades pessoais. (Shein,1978)
A teoria das âncoras de carreira de Schein é particularmente relevante no contexto atual, em que as carreiras são menos previsíveis e lineares. A globalização, o avanço tecnológico e a flexibilização do trabalho têm levado as pessoas a buscarem trajetórias que alinhem suas paixões e valores com o ambiente profissional. Schein contribuiu ao enfatizar que as escolhas de carreira ideais não dependem apenas das habilidades ou das oportunidades disponíveis, mas também das preferências intrínsecas e da motivação pessoal.
Schein definiu carreira em duas vertentes, carreira externa e carreira interna. usou esses termos para definir as diferentes formas de experiência e progressão na carreira, destacando a importância tanto da perspectiva organizacional quanto da percepção pessoal na trajetória profissional de um indivíduo. A carreira externa é orientada pelo lado visível e formal do ambiente de trabalho, enquanto a carreira interna é voltada para o lado psicológico e emocional da experiência de carreira. Edgar Schein enfatizou que, para uma carreira bem-sucedida, é importante haver alinhamento entre essas duas dimensões. As âncoras de carreira, outro conceito desenvolvido por Schein, podem ser vistas como uma maneira de ajudar o indivíduo a equilibrar e integrar esses dois lados da sua trajetória, buscando uma carreira que seja satisfatória tanto em termos externos quanto internos (Shein, E., 1978).
A carreira externa, também se refere à sequência de cargos, posições e status que o indivíduo ocupa ao
longo do tempo, conforme é observado pelas organizações e pelo mercado de trabalho. Essa trajetória é visível e mensurável, caracterizada pelas promoções, títulos e mudanças de função que o indivíduo obtém ao longo de sua vida profissional. A carreira externa é, portanto, marcada pela progressão hierárquica e pelos marcos formais definidos por normas organizacionais e sociais. Já a carreira interna diz respeito ao desenvolvimento psicológico e subjetivo do profissional, refletindo o conjunto de valores, expectativas, motivações e percepções pessoais que moldam a experiência da carreira. A carreira interna está relacionada à interpretação individual que a pessoa faz de suas experiências, ao significado atribuído ao trabalho e ao alinhamento entre sua trajetória e os próprios objetivos e valores pessoais.
Artigo: Carreira na Contemporaneidade: Teorias, Modelos e Conceitos – Mitio Sakai
